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Mostrando postagens de setembro, 2014

Posicionamentos

Nestes nove anos, enfrentei todo tipo de adversidades e vitórias as quais eu jamais poderia imaginar. A cada novo desafio eu procurava tirar forças nem sei de onde para me manter estável. Durante minha recuperação, tentava me ater aos momentos que vivia saudável e grata a cada novo progresso. Manter um posicionamento positivo, faz toda a diferença em nossa caminhada e eu me forçava a fazer isso quase todo o tempo. Meu livre arbítrio fazia uma escolha: eu ia vencer de qualquer forma. Pode parecer uma maluquice o que escrevi acima, principalmente quando estamos com o corpo todo lesado, tremendo de fraqueza, machucado... passei por cada um desses e até outros muitos sintomas e afirmo com toda a minha certeza, que através de uma postura positiva, de gratidão a cada novo progresso ao invés do lamento, a nossa condição física responde com muito mais vitalidade.  Digo isso, por experiência própria e pela de outras pessoas que conheci neste tempo, que viveram essa mesma realidade. Pa

Pratique Yôga

4. "Pratique Yôga": Estava ai algo que eu sempre resisti em fazer...por puro pré-conceito, achava esse lance de Yôga uma coisa meio "nerd", sem graça, pra idosos. A única vez em que havia experimentado, fora com uma senhora que ministrava aulas no clube que frequento, com mais outras poucas senhoras, todas em silêncio e estáveis demais para o que naquela época, eu pudesse me interessar.  Quando procurei estas aulas antes, achava que funcionaria como uma espécie de RPG, para corrigir minha postura. Eu trabalhava o dia inteiro em frente ao computador e vivia encurvada, com dores na lombar.  Agora a situação era outra, o médico neurologista me recomendara estas práticas, o que desconfio até hoje se tenha sido realmente consciente, pois não o imagino praticando uma aula, mas enfim, eu só tinha essa opção para começar a me exercitar quando retomasse e, se retomasse os meus movimentos.  Assim que voltei a ter controle sobre meu corpo, e os corticóides sim, colabor

Não se estresse

3. "Não se estresse": Pedir para que não me estressasse àquela altura era a mesma coisa que dizer: mantenha-se histéria. Meus nervos estavam cada vez mais à flor da pele, porém ali, toda essa energia destrutiva estava diretamente focada em minha reabilitação e cura, no meu planejamento de aonde eu iria chegar. Tinha uma meta e com certeza absoluta ia chegar nela.  Nunca achei que aquela condição me pertencia e que eu ia viver como uma coitada, me arrastando o resto de meus dias , em uma vida presa aos auxílios da minha mãe ou de qualquer pessoa. Não mesmo! O que eu não realizava ainda, era que muito daquele processo inflamatório que desenvolvera foi atenuado pelo fato de levar uma vida estressante, ser estressada . É muito importante, não somente em situações de enfermidades, como no nosso dia a dia que consigamos nos acalmar. É vital que tenhamos auto-controle e uma postura de lucidez cada vez que o que quer que seja nos tire do sério. Aqui,  volto a falar sobre as mul

Fique ao lado de quem você ama

2. "Fique ao lado de quem você ama": Ficar ao lado de quem se ama, muitas vezes foge ao nosso controle. Nem sempre, conseguimos estar perto de quem amamos ou, amar quem está por perto. Eu confesso que das pessoas que eu amava, perto de mim mesmo na época do diagnóstico, sobraram 3 ou 4.  As "falsas realidades" do mundo em que vivemos mais afastam do que unem as pessoas .  Percebia então, que os "laços" afetivos que eu havia criado em minha vida eram com essas "falsas realidades" e não com corações de verdade. Quando se vive num mundo de ilusões que era o que eu vivia, rodeado de maus hábitos,  falta de lucidez, sentimentos e posturas volúveis, fica muito difícil diferir o que é bom do ruim. Eu vivia numa realidade completamente irreal. Meus valores e sentimentos eram todos confusos, nada fazia sentido.  De certa forma, essa "seleção" que a vida me proporcionou só me ajudou, e por mais triste que eu pudesse ficar, sabia que acomp

Descanse

1. "Descanse":  Descansar não era propriamente o que eu fazia. Pessoas hiperativas, como é o meu caso, nunca se cansam, mesmo nas condições em que eu me encontrava. Minha mente estava a mil, eu me mexia mais que nunca, deitada, sentada, de um lado para o outro. Um plano de ação começava a ser montado em minha mente e quando consegui por fim segurar sozinha firmemente um lápis, esses planos foram para o papel.  Desde cedo eu tinha o hábito de escrever em cadernos, bloquinhos, guardanapos. Qualquer espaço em branco já virava um potencial para a produção de "mini-textos". Agora mais que nunca, eu tinha um prato muito bem servido! O mais desafiador de todos os textos. Com o tempo, percebia que quanto mais eu me concentrava em meus textos, mais descansado meu corpo parecia estar. Estava tão conectada, tão concentrada em escrever tudo o que eu aprendia e planejava, que acabava saindo de mim mesma. Neste momento, eu começava a experimentar os primeiros estados medita

Meus primeiros passos

Ter controle sobre meus impulsos nervosos, era agora o meu primeiro desafio, literalmente seriam meus primeiros passos. Eu sabia que podia contar com a ajuda de minha mãe, mas pensar que isso pudesse se prolongar sabe-se lá até quando, me deixava menos confortável a receber seus auxílios. Esse não era o fim que gostaria para nossos dias. Tinha que descobrir uma maneira de enviar os comandos certos ao meu corpo que neste momento não os encontrava. Quais eram as minhas chances? Por onde eu deveria começar? Pesquisando, descobri que mesmo com algumas partes condutoras dos impulsos lesionadas, o sistema nervoso encontra outros caminhos para enviar os estímulos, portanto, essas lesões não representavam o fim da linha, tudo teria volta se encontrássemos esses outros caminhos. Uma das formas que eu poderia achar esses caminhos seria através de minha alimentação e também da localização de minha consciência em movimentos corporais certos. Eu teria que desenvolver técnicas para estimular m

De volta à vida

Quatro eternos dias de internação se fecharam com meu retorno para casa. Aliviada em ver meus móveis, deitar no meu lençol e rever o cachorro, que na época era um bebê cãozinho de apenas 6 meses. Pequenas funções como caminhar sem ajuda, colocar uma havaianas nos pés, segurar um garfo, eram tão desafiadoras quanto acreditar que tudo aquilo estivesse acontecendo. Este foi o momento aonde eu comecei a escolher o que hoje vivo. Eu tinha um desafio imenso pela frente, que não dizia respeito somente à minha reabilitação, mas como e o que fazer para que eu não voltasse a ter surtos que prejudicassem meu corpo. No primeiro dia em que pisei em minha casa, consegui caminhar sem auxílio até a área de serviço para pegar o pote de água do meu cachorro (José), que dormia em meu quarto. O potinho parecia pesar o equivalente a uma bigorna de 10kg e, quando consegui por fim carregá-lo até lá, isso não durou 10 segundos e eu o derrubei com toda a água pelo quarto. Foi aí que eu decidi que ningué

Os primeiros resultados

Após a confirmação do exame que indicava um processo inflamatório, o neurologista decidiu que o melhor era que eu fosse internada em um hospital imediatamente para fazer novos exames e enquanto isso, recebesse doses, na veia, de corticóides para diminuir a inflamação que estava em meu sistema nervoso central. Já no hospital, obtive instruções de como deveriam ser meus próximos dias e o que eu poderia esperar do tratamento. A administração de corticóides era um paliativo, uma vez que, não se tinha certeza do meu quadro clínico e mesmo que se confirmasse pela esclerose múltipla, a mesma não tem cura, somente esses "suportes" da medicina que na maioria das vezes, nunca sabe de nada com exata certeza. Trata-se o paciente com o mesmo medicamento para diversos tipos de enfermidades. Naquele momento, eu só conhecia essa maneira de lidar com doenças, não fazia idéia do mundo que existe entre ser saudável, manter-se saudável e ficar debilitado. Fui submetida a diversos tipos de

Minha mãe

Parece um pouco fora do contexto, mas eu diria que é o contexto de toda essa trajetória. Minha mãe. Todo mundo tem uma e considerações para fazer a respeito da sua. A minha, foi quem me criou. Não poderia dizer que foi exatamente sozinha, pois minha avó tem um papel tão fundamental quanto o dela na base de todos os meus princípios, meios e fins. Venho de uma família aonde a presença masculina é quase nula. Tenho co-sanguíneos homens, em primeiro e segundo graus somente meu pai, um tio e um primo. O restante de toda a minha família (de sangue) é constituída por mulheres. Muitas mulheres eu diria, a família não é pequena. Sabe-se que a maior incidência de casos de esclerose múltipla se dá em mulheres, e o ponto aqui não é acreditar que fui contaminada por ser mulher e conviver desde sempre com muito mais mulheres do que com homens, mas relacionar a parte comportamental das mulheres em relação à dos homens, dada essa que acredito ser decisiva no desenvolvimento não somente da escler

O que é a esclerose múltipla?

A esclerose múltipla (EM) é uma das doenças mais comuns do sistema nervoso central (cérebro e medula espinal). Hoje, mais de 2.300.000 pessoas em todo o mundo vivem com EM. É uma doença inflamatória desmielinizante. Isso significa que é causada por danos na mielina – um material que isola e protege os nervos, agindo de uma maneira muito parecida a um revestimento de um fio elétrico. A mielina permite que um nervo transmita seus impulsos rapidamente. É a velocidade e a eficiência com que estes impulsos são conduzidos, que permite que movimentos suaves, rápidos e coordenados sejam realizados com pouco esforço consciente. Na EM, o sistema imunológico ataca a mielina – a substância que envolve e isola as fibras nervosas – bem como as próprias fibras nervosas. A perda de mielina (desmielinização) é acompanhada por uma alteração na capacidade dos nervos de conduzirem impulsos elétricos para e a partir do cérebro. Isto produz os vários sintomas da EM. Quando qualquer parte da ba

O choque dos primeiros exames.

Há pouco mais de 9 anos atrás, no fervor dos meus 22 anos, ( FERVOR, porque naquele tempo eu realmente vivia em ebulição!), na sexta-feira do dia 22 de julho de 2005, eu comecei a sentir uma queimação na pele de meu colo, acima dos meus seios, como se eu tivesse tido uma queimadura, ou estivesse desenvolvendo algum processo alérgico. Neste dia eu organizava o chá de bebê de uma das minhas melhores amigas, que seria em minha casa. Como sempre, correndo, fazendo um milhão de coisas ao mesmo tempo, brigando, rindo, chorando, comendo, trabalhando, passeando com o cachorro, tudo junto, misturado, inacabado, rindo, trabalhando e chorando de novo. Nesta época, eu era casada há um ano, trabalhava na administração de nosso restaurante que estava em pleno desenvolvimento, jogava squash praticamente todos os dias, no período que eu chamava de horário de almoço. Me alimentava da maneira que os poucos minutos que me restavam permitiam, fumava quase um maço de cigarros por dia e não fazia ideia d

Oportunidades

Todos os dias, várias janelas de oportunidades são abertas em nossa caminhada. Janelas que definirão muito a respeito de nossa trajetória: para aonde iremos, como iremos, com quem, para quê iremos... Relutei alguns anos para escrever sobre o que provavelmente foi a maior "janela de oportunidades" que recebi em minha história, sabendo que tudo àquilo que escrevemos, de certa forma fica firmado em nosso universo. Exatamente porque consegui chegar até aqui, que surgiu "a janela" deste blog, aonde hoje começo a compartilhar um pouco de como foi todo esse processo. Em 2005, com 22 anos completos, fui diagnosticada pela medicina "tradicional" de meu país paciente de esclerose múltipla. Vivi o medo de me expor frágil, o pavor em aceitar o que eu nunca acreditei ter, dificuldade em assimilar aquilo que estava por vir. Tantos sentimentos misturados e o desafio de negociar com eles! Depois de relutar muito, vividos alguns anos, decidi passar a diante algumas d